segunda-feira, 30 de junho de 2014

Escravidão, por Tobias Barreto

Se Deus é quem deixa o mundo
Sob o peso que o oprime,
Se ele consente esse crime
Que se chama  escravidão,
Para fazer homens livres,
Para arrancá-los do abismo,
Existe um patriotismo
Maior que a religião.


Se não lhe importa o escravo
Que a seus pés queixas deponha,
Cobrindo assim de vergonha
A face dos anjos seus,
Em seu delírio inefável,
Praticando a caridade,
Nesta hora a mocidade
Corrige o erro de Deus!...

''Oração'', por Friedrich Nietzsche

Conheço o espírito de muitos homens
E nem sei quem eu mesmo sou!
O meu olhar está demasiado próximo a mim...
Não sou aquilo que vejo e que vi.
Saberia ser-me mais útil 
Se estivesse longe de mim.
Não, por certo, tão distante como o meu inimigo!
O meu melhor amigo já está demasiado distante...
Mas há o meio caminho entre ele e mim!
Sereis capaz de adivinhar o meu pedido?

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Acorrentado

Sou prisioneiro do meu sentimento
Do teu corpo, desse tempo
Do teu olhar sem calor
Sou refém do teu descaso
Do teu coração descarado
Do teu ego sem pudor
Sou um escravo apaixonado
Do desejo inacabável
De conquistar teu amor

Condição

Minha poesia é uma panaceia para o meu sofrimento
Meu sofrimento é uma consequência do meu amor
Meu amor é uma corrente vermelha manchada de sangue
O sangue do meu coração ferido
Ah, que vontade sinto eu de declarar este sentimento!
Mas estou atado aos preconceitos
Amarrado às velhas concepções
Imobilizado pelas opiniões
E mais do que tudo, afastado de meu ''objeto'' de desejo...
Quão distantes estão aqueles olhos, que ora aprovam e ora desprezam?
Quão distante está aquela boca, que ora sorri e ora silencia?
Quão distantes estão aqueles braços, que ora me abraçam e ora me afastam?
Uma hora você está tão perto, tão sensível, tão acessível...mas logo foge de mim, [deixando-me nas trevas da solidão, na dependência das minhas tristes memórias...
Estes versos, tão tristes e honestos, são os filhos desse amor platônico, são os efeitos do [sentimento negado
Este amor é uma indestrutível promessa de fidelidade
Eu sou um pobre amante buscando o inalcançável...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Refúgio

 Basta um olhar ao redor para que eu me sinta mal. Aliás, mesmo sem sequer olhar, sentir o que há ao meu redor já me deixa triste. Os conflitos, as mentiras, as futilidades, os sofrimentos, as decepções... tudo isso, junto, é tão comum... é como se nós estivéssemos doentes, como se a sociedade estivesse doente, fatalmente infectada, irremediavelmente destinada à morte. Mas é diferente quando fecho os olhos. Eu consigo te ver-ou melhor, eu e você, juntos-descansando ao pôr-do-sol, sorrindo, satisfeitos, com uma sensação de dever cumprido, de ideal realizado... consigo sentir tudo tão melhor, tudo tão mais bonito, todos tão unidos, tão felizes, tão saudáveis... eu não faço ideia de como fazer isso acontecer, nem se isso pode acontecer, e provavelmente não irá, mas eu sei que sempre vou poder fechar meus olhos e imaginar esse mundo quase paradisíaco, essa utopia, esse sonho... e você sempre irá estar lá, porque é para os seus braços que eu corro quando preciso de apoio, é sua voz que eu anseio quando preciso de carinho, é de você que eu sinto falta quando estou sozinho, é em você que eu penso quando me falam de amor...

sábado, 23 de novembro de 2013

Só nosso

Há alguns ingênuos que pensam que o amor é um lindo laço de igualdade entre 2 pombinhos, que os enamorados estão equilibrados na relação, que o desejo físico é uma consequência do sentimento ou que a melhor descrição dele é um casal de costas, de mãos dadas, olhando a lagoa ao pôr-do-sol, a cabeça dela inclinada sobre o ombro dele, a dele, sobre a dela. Mera ilusão. Aliás, talvez nem seja ilusão, talvez para os outros seja assim, mas para nós não, e você sabe disso. Nosso amor é como uma guerra violenta, uma disputa manchada de sangue e esperma, um vulcão em erupção cuja lava é nossa libido, uma luta cuja regra é conquistar sem ser conquistado, um jogo de olhares e acenos, de sugestões e seduções, de satisfação e dominação. O que há entre nós é sombrio e úmido, pérfido e desconhecido, tentador e inaceitável. Muito melhor que todos os romances água-com-açúcar ou namorinhos sem sal, nosso amor é prazer, sensação, alívio, desejo, perigo, suor e descaso-é nosso tipo de amor.